sábado, 26 de setembro de 2015

Duas batalhas

POR GERSON NOGUEIRA


Fazia algum tempo já que a dupla Re-Pa não encarava, num mesmo dia, batalhas tão importantes e decisivas fora de Belém. O Papão joga em Salvador defendendo a segunda colocação no Brasileiro da Série B contra o Vitória, um adversário direto. O Leão enfrenta o Palmas, na capital tocantinense, buscando começar positivamente o mata-mata das oitavas de final da Série D. 
São jogos importantes e perigosos por razões diversas. O Papão não pode facilitar, pois o próprio Vitória e mais seis clubes lutam pelo acesso e tentam ultrapassá-lo. Na verdade, o representante paraense virou o time a ser batido nesta parte final da Série B. O Remo estreia na fase eliminatória da Série D e, apesar de superior ao adversário, precisa ter cautelas para evitar surpresas.  
Caso consiga sair de Salvador com uma vitória, ou mesmo um empate, o Papão dará passo importantíssimo para o acesso. Com 47 pontos ganhos, precisa acumular mais 19 para garantir uma das quatro vagas. Como terá ainda cinco jogos a fazer em casa, o time precisa beliscar quatro pontos em terreno adversário. Começar essa colheita hoje seria oportuno e teria efeitos ainda mais animadores sobre o elenco. 
A garantia de escalação do atacante Betinho - graças a efeito suspensivo - representa um importante trunfo para o técnico Dado Cavalcanti. Sem um homem de referência na frente, seria obrigado a improvisar Aylon, cujas características são mais de um atacante de lado, pela velocidade que imprime ao jogo.
Além disso, Betinho tem sido um jogador produtivo, marcando gols importantes e em franca evolução técnica, depois de um começo pouco auspicioso na Copa do Brasil. Contra o ABC, marcou dois gols, exibindo grande movimentação em todos os lados do ataque. Na partida seguinte, diante do Náutico, salvou-se do naufrágio geral. Em tarde pouco inspirada do time, teve o melhor rendimento, criando boas situações mesmo sem ter sido acionado pelos meias. 

Para dar ainda mais consistência ao time, a linha defensiva não sofre alterações, contando com os laterais titulares, Pikachu e João Lucas. O ponto de interrogação fica por conta do meio-campo, onde, na ausência de um armador de ofício, Jonathan deverá ter funções de ligação. Rony e Léo, mantidos na equipe, terão que desempenhar um papel mais dinâmico, ajudando tanto o meio quanto Betinho na ofensiva.  
Sob o sol inclemente de Palmas, o técnico Cacaio optou por lançar um ataque à moda antiga, apostando tudo na altura do centroavante Kiros. Até mesmo a longa inatividade do jogador foi esquecida, talvez por força das lembranças de 2005, quando Roberval Davino usava Capitão para complementar jogadas aéreas. Outro fator determinante para a entrada de Kiros foi a baixa produtividade dos outros atacantes de área. Rafael Paty, principal goleador da equipe na temporada, não atravessa bom momento. Aleílson e Welthon não conseguiram se firmar quando entraram como titulares. 
Léo Paraíba, especialista no jogo de velocidade pelo lado direito, será o companheiro de Kiros no ataque. Sozinho, porém, não poderá fazer muito. Para que Kiros tenha oportunidades, será fundamental o trabalho de Juninho e Eduardo Ramos na meia-cancha e de Levy e Alex Ruan nas laterais. Acima de tudo, os cruzamentos devem ser caprichados.   
Como o duelo é de 180 minutos, é importante conquistar um bom resultado no primeiro jogo, embora com a consciência de que o desespero e a pressa devem estar do outro lado. Ao Remo cabe fazer um jogo estratégico, observando e explorando eventuais falhas do Palmas.
O time do Tocantins fez uma das mais fracas campanhas da fase classificatória, marcando sete gols e sofrendo quatro. Os números indicam que a defesa é seu ponto alto, mas o ataque é econômico. Outra razão para que Cacaio e seus jogadores não se entreguem à afobação. Saber esperar pode ser um trunfo decisivo nesta fase eliminatória. 

(Coluna publicada no Bola deste sábado, 26)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Rock na madrugada - Faces, Stay With Me


Um tropeço perigoso

POR GERSON NOGUEIRA

Foi apenas a segunda derrota do Papão em casa nesta Série B, mas o resultado desencadeou muitas preocupações. Reação natural, afinal o time vinha cumprindo uma trajetória empolgante e invicta no returno, com seis vitórias e dois empates. A evolução fez com que a possibilidade do acesso se tornasse concreta, gerando mais expectativas sobre o time.
Contra o Náutico no sábado à tarde, porém, a atuação foi frustrante. Mereceu apupos e rendeu vaias até ao técnico Dado Cavalcanti. No final, por respeito à campanha e não por aprovação ao desempenho na partida, o torcedor aplaudiu a saída dos jogadores. Gesto bonito, que confirma que Dado e o grupo têm crédito junto à torcida.  
O problema é saber que perfil o time terá nas próximas 11 decisivas rodadas. Não pode ser o que se viu no sábado – descaracterizado, lento em excesso e pouco concentrado nos objetivos. Até a habitual fibra ficou de lado em muitos momentos, só reaparecendo na reta final da partida.
Dado armou a equipe com Betinho e Léo na frente, Carlos Alberto na criação e Jonathan, Fahel e Gilson como volantes. Repetiu jogadores do confronto com o vice-lanterna ABC no meio da semana, quando o Papão ganhou na base da valentia, mas dando brechas ao limitado adversário.
Logo aos 3 minutos, Betinho perdeu a grande chance do Papão no jogo. Recebeu cruzamento de Gilson e, diante do goleiro Júlio César, soltou uma bomba. A bola bateu no goleiro e foi a escanteio. Um gol ali teria mudado o rumo das coisas, obrigando o Náutico a sair da zona de conforto.


Os primeiros movimentos confirmaram o grau de dificuldades que o Papão teria pela proa. Como Carlos Alberto nada produzia, Léo recuou para ajudar, mas pouco acrescentava. Jonathan se adiantava, abrindo espaços na marcação e forçando Fahel a se manter preso lá atrás.
O Náutico posicionava seus três volantes – Felipe Souto, Marino e Jackson Calcaia – em cima de Carlos Alberto e Léo, atrapalhando a saída do Papão. Ao invés de buscar a opção pelos lados, explorando a velocidade de Pikachu, Carlos Alberto insistia apenas pela esquerda, com João Lucas. O lateral até avançava, mas nas suas costas o Náutico posicionava Guilherme Biteco em contragolpes perigosos.
Com a batalha duríssima pela bola no meio-de-campo, com quase dez jogadores transitando por ali, as oportunidades de escape eram raras. Quando surgiam, o Náutico aproveitava melhor, usando uma das grandes características do próprio Papão nesta Série B: a objetividade.
Econômico nos passes, o time pernambucano avançava com rapidez, com Biteco, Douglas e Bruno Alves sobre o setor defensivo do Papão, tendo ainda o auxílio do lateral Gastón Filgueira. Ganhava confiança e induzia os bicolores a seguidos erros de passe, principalmente Carlos Alberto e Léo, que irritavam o torcedor.
O Papão ainda teria três outras oportunidades no primeiro tempo. Aos 20, em disparo cruzado de João Lucas que o goleiro desviou; aos 32, com Betinho, que dominou entre os zagueiros e mandou uma bomba ao lado do poste direito; e aos 35, com Jonathan chutando forte e obrigando o goleiro a uma defesa arrojada.
Para a etapa final, imaginava-se que Dado iria mexer na equipe. Ledo engano. Carlos Alberto ainda voltou a campo, errou mais duas jogadas, levou cartão amarelo e só então foi trocado por Rony, aos 9 minutos. O Papão já havia escapado de levar o gol aos 2 minutos, quando Bruno Alves furou espetacularmente na pequena área, sozinho diante de Emerson.
O Náutico avançou sua marcação até a intermediária do Papão, passando a roubar seguidas bolas. Aos 10 minutos, Douglas foi lançado em velocidade, driblou Tiago Martins e bateu na saída de Emerson. A bola saiu à direita da trave do Papão. O gol pernambucano estava amadurecendo.
João Lucas, em grande arrancada, mandou rasteiro, mas o goleiro abafou o chute. Aos 20 minutos, Gastón cruzou e Pikachu desviou de cabeça na pequena área, impedindo o gol de Bergson (que havia substituído a Douglas). Na sequência, veio o escanteio e o gol de Rafael Pereira. A bola cabeceada por Marino ainda resvalou em seu braço antes de bater na trave.
Aí o Náutico recuou e o Papão foi todo à frente. Edinho substituiu a Jonathan e imprimiu mais velocidade ao time. Criou dois bons ataques, mas não tinha a ajuda dos demais. Aylon custou a entrar e ainda colaborou no esforço desesperado pelo gol, mas já era muito tarde. Já nos acréscimos, Rony fez corta-luz na frente do goleiro, invalidando a jogada do empate.


Lições que não podem ser esquecidas

Das lições que a derrota deixou, a mais visível e óbvia é que o time não pode sofrer tantas mudanças e colocar sobre novatos a responsabilidade de manter o futebol consistente que vinha praticando. Rony, Gilson e Léo claramente estão abaixo do nível geral da equipe.
O fato é que Léo não pode ser titular com Aylon no banco, assim como fica estranho ter Gilson como o trunfo para bolas aéreas quando Fahel está em campo. Tem mais: Pikachu é muito importante para se manter fora do jogo, sendo pouco acionado e evitando tentativas individuais.
Betinho, apesar das chances perdidas, é um atacante talhado para a briga dentro da área. Mesmo sem receber bolas como deveria, mostrou desenvoltura, levou vantagem sobre os beques do Náutico. Foi um dos melhores do time, ao lado de Emerson, Gualberto e João Lucas.


Leão estreia camisa e goleia o Japiim

O amistoso que o Remo fez ontem no Mangueirão, goleando o Castanhal por 4 a 1, é daquelas inutilidades que só se justificam pelo aperreio nas contas. Aleílson marcou seus dois primeiros gols jogando em Belém (havia feito um antes naquele outro amistoso inútil, em Uberlândia). Chicão fez o dele, Léo Paraíba também e Kiros foi discretíssimo.
Além disso, o Leão estreou seu terceiro uniforme, em vermelho e azul. Não se podia esperar mais do que isso de um reles caça-níquel.


O pulso ainda pulsa


Foi um jogo sofrido, como tem sido a caminhada do Águia na Série C. Fazendo um jogo de vida ou morte com o Cuiabá, marcou logo aos 4 minutos, mas Edinaldo jogou contra o patrimônio aos 28 minutos. Redimiu-se aos 33, desempatando. Flamel, que não perde pênalti, perdeu o seu. A tarde era realmente de sustos. Sorte que, ainda no primeiro tempo, o próprio Flamel se reabilitou, convertendo outra penalidade. No fim, vitória convincente e esperança mantida por um milagre na rodada final.  

(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 21)

Galo surra o Urubu no Horto


Capa do Bola, edição de segunda-feira, 21


domingo, 20 de setembro de 2015

Das armadilhas do tempo

POR GERSON NOGUEIRA
A CBF solta foguetes pelo aumento do tempo de bola rolando nos jogos do campeonato brasileiro da Série A. De fato, é algo digno de comemoração. Sempre que o jogo flui e os jogadores se dedicam mais a correr do que a encher a paciência do árbitro, o espetáculo ganha em qualidade e dinâmica, e o torcedor obviamente sai lucrando.
Em relação a 2014, os números melhoraram bastante. O fato mais significativo é que triplicou a quantidade de partidas com mais de 60 minutos, dentro do padrão que a Fifa considera ideal. Dos 260 jogos realizados, 47 (18,07%) atingiram o índice, contra 16 jogos (6,15%) no ano passado.
 levantaram destaca a participação de alguns times nos jogos que registraram mais de 60 minutos de bola valendo. São Paulo, Atlético-PR, Atlético-MG, Corinthians, Cruzeiro e Sport Recife estão entre os que mais contribuíram para que o jogo fosse mais corrido. A média de tempo de bola em jogo também subiu, chegando a 54 minutos e 51 segundos. Na Copa do Mundo de 2014 a média chegou a 57 minutos.
Das 26 rodadas disputadas na Série A, a última foi a de melhor desempenho, com 568 minutos de tempo total nos 10 jogos. Contribuem para essa evolução a disposição das equipes em jogar de verdade, sem apelar para truques e antijogo e a orientação dada à arbitragem.
Respaldados pela comissão de arbitragem, os juízes estão mais severos na punição a reclamações de jogadores, o que tem garantido diminuição das paralisações.
O mesmo ocorre quanto ao índice de faltas, cuja média caiu de 33 para 27 por jogo. Neste ponto fica a dúvida se as faltas estão menos frequentes ou se os árbitros estão mais flexíveis, apitando à inglesa e evitando parar o jogo em função de qualquer choque ou empurrão.
Só por curiosidade, o jogo com maior tempo de bola rolando no Brasileiro foi Atlético-PR x Atlético-MG, com 69 minutos e 40 segundos. Deve ter sido um dos jogos mais disputados de todos os tempos no Brasil. A arbitragem foi de Thiago Peixoto, uma das novas apostas da arbitragem brasileira, juntamente com o nosso Dewson Freitas, que não aparece entre os árbitros dos jogos com mais tempo de bola rolando, mas contribuiu no quesito aplicação de faltas. São dele os números mais expressivos quanto a jogos com menor índice de infrações.
Coincidência ou não, os árbitros mais destacados no levantamento da CBF pertencem à nova safra. Além de Peixoto e Dewson, aparecem Ricardo Ribeiro (MG), Wilton Sampaio (GO), Péricles Cortez (RJ) e Anderson Daronco (RS). Têm sido fundamentais para a elevação do tempo de jogo, embora a qualidade técnica dos espetáculos dependa sempre do desempenho dos times.
Fica faltando apenas a arbitragem brasileira adotar um critério único para a marcação de pênaltis por toques de mão na bola. É até aqui a principal praga do campeonato desta temporada porque os árbitros definem a marcação dos penais muito mais pela cor das camisas do que pelas normas da Fifa.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 20)

Náutico tira invencibilidade do Papão no returno


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Galeria do rock (3)

George Harrison e Bob Marley conversam nos bastidores de um show do reggae-man jamaicano no Roxy Theatre, em Londres. Idos de 1975.

Capa do Bola, edição de quinta-feira, 17


Hum hum...


Rock na madrugada - Beatles, It's Only Love


A um passo da insanidade

POR GERSON NOGUEIRA


Um grupo de torcedores do Remo hostilizou e expulsou, por ocasião do jogo com o Vilhena no Mangueirão, domingo, um jovem carioca que trajava a camisa do Flamengo. Mesmo que os amigos que o acompanhavam explicassem que ele estava ali para torcer pelo time paraense, a malta de intolerantes não refreou a fúria sem sentido. Continuou aos gritos e xingamentos, chegando mesmo a empurrar o torcedor. Ameaçado de agressão física, ele desistiu de ver a partida e foi embora, depois de ter comprado ingresso. 
A triste cena, acompanhada por dezenas de outras pessoas, é emblemática do clima de crescente intolerância nos estádios (e até ruas) de Belém.
Sob o manto da rivalidade entre remistas e bicolores repetem-se episódios de extrema agressividade, saindo do fanatismo bobo para a insanidade pura e simples. 
Na semana passada, o jogador Eduardo Ramos foi enxotado da porta de uma sala de cinema no Boulevard Shopping após ser reconhecido por torcedores bicolores que ali estavam para ver o documentário "100 Anos de Payxão", que celebra o centenário do Papão.
Ramos tinha ido ver um outro filme, mas sua presença ali foi vista como provocação inaceitável pelos baderneiros. Como se tivesse a obrigação de pedir autorização para assistir a um filme que estava em exibição ao lado das salas destinadas ao documentário alviceleste.
O absurdo ganhou contornos ainda mais graves quando, horas depois, outros torcedores manifestaram apoio e solidariedade às cenas vexatórias e incivilizadas vistas na porta do cinema.
São exemplos preocupantes, embora de matizes diferentes, do grau de altercação e desequilíbrio que envolve hoje o nosso futebol. O fato é que a rivalidade centenária entre Leão e Papão não pode ser desfigurada por grupelhos radicais, encorajados pelo distanciamento físico proporcionado pelas redes sociais e que açulam a valentia virtual e a leviandade impune.   
O que aconteceu domingo no Mangueirão está mais próximo do que se poderia definir como radicalismo sem noção. Criou-se há algum tempo, a partir de exemplos bem sucedidos entre torcidas de clubes nordestinos, a campanha pela valorização do amor único a um clube do Estado. A boa iniciativa degenerou para uma perseguição sem tréguas aos chamados "torcedores mistos", que cultivam paixão por agremiações do Sul e/ou Sudeste. 
Ora, que mal há em torcer por um ou mais clubes¿ Deixa-se de lado um dos pilares da paixão futebolística: o livre arbítrio e a ausência de limites geográficos para exprimir amor a um clube. Conheço muita gente que torce por Barcelona, Milan, Chelsea, Real Madri e até Bayern, sem prejuízo do sentimento que nutrem por clubes nacionais. 
A maior aberração embutida nessas atitudes truculentas é o desrespeito às liberdades individuais. Todos temos direito de expressar livremente nossas preferências, de qualquer espécie, seja dentro ou fora do esporte. Atentaram contra esse princípio constitucional tanto os que humilharam um jogador no cinema do shopping quanto os que achincalharam um torcedor trajando camisa de outro clube. 
Os de bom senso têm a obrigação de agir no sentido de aplacar esse ódio irracional que brota no entorno de uma paixão tão bonita como o futebol.


Amistoso ou treino, eis a questão

O Remo dispõe de 13 dias para se preparar adequadamente para o mata-mata da Série D. Antes do primeiro confronto com o Palmas (TO), marcado para o próximo dia 26, o time fará um amistoso com o Castanhal no domingo (20), às 10h.
Duvido que a partida seja mais útil, em termos práticos, do que um bom treino coletivo. Além da impossibilidade de ver em ação todos os atletas, visto que Cacaio prefere testar quem não vem atuando, há o risco de contusões, justamente na fase mais decisiva do campeonato.
A novidade será a apresentação de Kiros aos torcedores. O atacante foi inscrito e já pode atuar pelo Remo. Deve ser o principal reforço para os jogos com o Palmas. Cacaio terá com ele a chance de reeditar a estratégia vitoriosa de Roberval Davino na Série C de 2005, quando utilizou os grandalhões Capitão e Carlinhos em certeiras jogadas aéreas.
Para isso, porém, é preciso treinar e repetir incansavelmente esse tipo de lance. Era o que Davino fazia, obtendo excelentes resultados nos jogos. Com bons batedores de faltas e escanteios, como Eduardo Ramos, Levy e Juninho, o grandalhão Kiros pode vir a ser um bom trunfo nas batalhas eliminatórias – mas não pode ser o único.


O doce dilema de Dado

Uma dúvida deve estar zunindo na cabeça de Dado Cavalcanti a essa altura do pagode: Leandro Cearense ou Betinho no comando do ataque. O primeiro é o mais regular dos avantes do Papão na Série B, com participação em quase todas as partidas nas quais o time pontuou. O segundo tem sido muito certeiro nas finalizações, aproveitando todas as oportunidades que aparecem pela frente.
O torcedor, que nem sempre simpatizou com Cearense, começa a dedicar aplausos entusiasmados ao novo centroavante. Betinho tem feito por merecer. Fez um gol típico de camisa 9 contra o Santa Cruz e diante do ABC marcou em lance de oportunismo puro, antecipando-se a zagueiros e ao goleiro adversário.
Tem em seu favor maior desenvoltura dentro da área, enquanto Cearense é um jogador taticamente mais interessante, pois ajuda na marcação e sabe sair da área para buscar e construir jogadas. Saíram de seus pés os passes perfeitos para Welinton Jr. fazer o segundo gol contra o América-MG e para Jonathan abrir o placar contra o Santa Cruz no Recife.
Dado terá que quebrar a cabeça diante desse gostoso dilema. Qualquer das opções que preferir dará ao ataque consistência e força.

(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 17)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Capa do Bola, edição de quarta-feira, 16


Coluna de quarta-feira, 16, no caderno Bola


Rock na madrugada - Robin Trower, Day of the Eagle


Frieza e objetividade

POR GERSON NOGUEIRA


Muitos gols, uma virada logo no primeiro tempo e o triunfo final do Papão, com direito a dois sustos nos minutos finais. Tudo como manda o figurino da Série B. Vitória da frieza e objetividade, aproveitando as chances, desperdiçando algumas e correndo alguns riscos. O Papão alcançou 47 pontos, está colado no líder Botafogo e se distancia dos demais times do G4. O acesso, mais do que nunca, é uma possibilidade real.
Não deu muito tempo para que os times entrassem naquela história de estudos. Para surpresa geral, o ABC balançou as redes logo aos 7 minutos, com o bom Ronaldo Mendes. Vacilo de marcação da zaga pelo lado direito permitiu o gol potiguar.
O Papão não se abalou e, mesmo com um time bastante modificado, foi à frente e passou a pressionar em busca do empate. O gol não demorou a nascer. Aos 13, o quase desconhecido Léo – escalado à última hora por Dado Cavalcanti – balançou as redes.
Várias situações de área eram criadas, meio aos trancos e barrancos, mas o Papão continuava em cima, querendo a vitória. Rony já estava em campo, substituindo a Welinton Junior, sacado por contusão. Apesar de boa distribuição em campo, o time perdeu força ofensiva com a saída de Welinton. Ainda assim, chegou ao segundo gol aos 31 minutos, em penal marcado depois de uma bola na mão de zagueiro do ABC. Betinho converteu.
Com a virada, o Papão desceu para os vestiários bem mais confiante, sabendo que poderia administrar as ações na etapa final contra adversário também desfalcado, mas sempre perigoso nos contragolpes.
Do meio para a frente, o time até se movimentava bem, com Jonathan conduzindo o jogo, apesar da apagada atuação de Carlos Alberto, que reaparecia no time titular. Do lado potiguar, o perigo estava nos pés de Ronaldo Mendes e Bismarck, sempre muito ariscos e rondando a área.
A partida foi se arrastando e, aos poucos, o Papão pareceu cair num certo relaxamento, situação que favoreceu algumas estocadas seguidas do ABC, principalmente depois que Adriano entrou no ataque. Quando o perigo de um empate já inquietava a torcida, eis que veio o terceiro gol, aos 34 minutos, através do atacante Betinho, aproveitando um clarão no setor defensivo dos visitantes.
Sempre criticado nas primeiras vezes em que entrou na equipe, Betinho mostrou utilidade, como já havia ocorrido na partida com o Santa Cruz, no Recife. Corpulento, sabe e gosta do jogo de choques com os zagueiros e é muito eficiente ali junto à pequena área. Começa a ganhar a titularidade, apesar de visivelmente ainda não estar em plena forma.
Depois do terceiro gol, o que era tranquilidade virou acomodação e o Papão passou a ceder espaços no meio-campo e se mostrar vulnerável no miolo de zaga. Bismarck tentou duas vezes, Ednei quase acertou um tiro de média distância, Emerson evitou um gol certo e Adriano acabou acertando um cabeceio aos 44 minutos, diminuindo o placar.
O gol deu sangue novo ao ABC e intranquilizou o Papão, que por cinco minutos quase sacrificou uma vitória certa e até cômoda. Bismarck, em dois arremates bem defendidos por Emerson, esteve bem perto de obter o empate final.
No frigir dos ovos, um excelente resultado para o Papão, que tinha contra si o desentrosamento natural de várias peças escaladas para a partida. Sentiu também a ausência de Pikachu, Fahel e Augusto Recife, mas mostrou que tem um jogo pronto, encaixado e maduro.
Com a segurança de quem cumpre campanha quase impecável, o time de Dado Cavalcanti garantiu com sobras a permanência na Série B (o limite mínimo era 45 pontos) e marcha para o acesso com autoridade. A partida de ontem retratou novamente a consistência do esquema montado pelo técnico, que já não depende de um ou outro jogador titular. Funciona a contento mesmo com muitos desfalques. A isto se pode chamar de regularidade. 

sábado, 12 de setembro de 2015

Pois é...


O passado é uma parada...

Cassius Clay com os Beatles, em 1967.

Facilidade e risco

POR GERSON NOGUEIRA

O jogo Remo x Vilhena, tão aguardado pela torcida azulina, tem toda pinta daquelas cascas de banana tão ao gosto dos caprichos do futebol. Atentem para os sinais. Depois de ameaçar reiteradamente não vir a Belém fazer a última partida da fase de classificação, o time rondoniense chega completamente estropiado para o confronto.
O técnico Marcos Birigui talvez só tenha três atletas para compor o banco de suplentes. Já vimos inúmeras vezes equipes combalidas se transformarem repentinamente em verdadeiras carnes de cabeça aqui dentro. Cacaio que se acautele.  
Completamente desinteressado depois de ter sido eliminado da competição na rodada passada, o VEC entrará em campo sem nenhuma pressão sobre os ombros.
Se você não ganhou nada, não tem nada pra perder, diz aquela velha canção do Camisa de Vênus. O conceito se aplica perfeitamente à situação do Vilhena.
O representante rondoniense vem apenas cumprir tabela, mas de repente pode se entusiasmar e criar dificuldades para o mandante. Com estádio cheio e a expectativa de um feliz reencontro da torcida com seu time, o risco de um revertério não pode ser descartado.

Um exemplo bem parecido com o cenário atual se registrou na abertura do Campeonato Paraense desta temporada. O estreante Parauapebas veio cheio de problemas para desafiar o Remo no Mangueirão. Com poucos reservas, o time havia treinado apenas duas vezes, mas conseguiu derrotar os azulinos por 2 a 1. Um resultado inesperado, sem explicações ou justificativas, como toda zebra que se preze.
Da parte do Remo, o time foi montado de maneira a não permitir que o sobrenatural de Almeida entre em campo. Cacaio repete praticamente a mesma equipe que empatou com o Rio Branco. A única mudança é na zaga, onde Igor João deve substituir a Max, suspenso.
O sistema 4-4-2, de inspiração ofensiva, está mantido. O segredo está nas duplas montadas para pressionar o adversário. No meio, Eduardo Ramos e Edcléber. Na frente, Rafael Paty e Léo Paraíba. Não funcionou em Rio Branco, mas pode deslanchar neste domingo, desde que os laterais Levy e Alex Ruan tenham liberdade para avançar.
Ramos, cabeça pensante do esquema, tem o papel crucial de tornar as ações ofensivas mais claras, trabalhando na organização de jogadas e chutando a gol. Bom finalizador, nos últimos jogos permaneceu na intermediária, longe demais da zona de tiro. O time perde força quando isso acontece.  


Papão volta com saldo positivo

O bicolor juramentado Pedro Nelito Jr. foi cirúrgico: “Uma odisseia”, disse nas redes sociais, ainda sob a emoção do empate arrancado a fórceps no Durival de Brito na noite fria de sexta-feira. Nelito estava certo. O jogo foi duríssimo para o Papão. Ninguém esperava moleza, é verdade, mas o Paraná foi mais forte do que se imaginava.
Agredindo sempre e concentrando suas ações ofensivas pelo meio, baseado na qualidade de passe de seus armadores e atacantes, o Paraná mandou no primeiro tempo e em boa parte do segundo. Fez um gol, tinha o jogo nas mãos e se mantinha sempre rondando a área do Papão, criando várias oportunidades.
A equipe paraense sofria com atuações fracas de vários jogadores e de uma confusa movimentação entre meio-campo e ataque. Pikachu permanecia atrás, anulado pela marcação adversária, enquanto que os homens de frente raramente tinham chance de finalização. Como ocorreu diante do Santa, o Papão esperava que o adversário cometesse um erro para tentar chegar ao gol.
O problema é que o Paraná custou a cometer esse erro. Na verdade, só facilitou as coisas depois que Dado Cavalcanti resolveu sair pro jogo, ali por volta dos 20 minutos da etapa final. Com Welinton Jr. enfiado entre os atacantes, confundindo a marcação, o Papão se preparou para um bote certeiro.
Ele foi dado aos 32 minutos. Pikachu recuperou bola no campo de defesa do Papão e fez um lançamento de 30 metros para Welinton, no chamado ponto futuro, por trás da linha de zagueiros. O atacante recebeu e tocou na saída do goleiro. Um gol que foi metade de Pikachu, metade de Welinton.
O empate serviu para apagar em parte a má performance ao longo da noite, assegurando a conquista de quatro pontos em dois jogos longe de casa. Foi a sexta partida invicta no returno. O Papão segue como vice. Joga na conta do chá e capricha na objetividade. Cria pouco, mas aproveita todas as chances que surgem. Vai dando certo.


Bola na Torre

Giuseppe Tommaso comanda a atração, a partir de 00h15 na RBATV. Na bancada, Valmir Rodrigues, Alex Ferreira e este escriba de Baião.
Em pauta, a participação dos clubes paraenses nas competições nacionais e os principais assuntos da semana esportiva.


Natal com música e futebol

Amigo da coluna, Marcos Maderito, cantor e compositor da Gang do Eletro, avisa que está em campanha de mobilização de músicos e atletas para um grande evento beneficente no próximo Natal. Pikachu é um dos boleiros que aderiu à iniciativa. Outros já estão sendo contatados.  

(Publicada no caderno Bola deste domingo, 13)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Torcida bicolor vaia e expulsa Ramos do cinema

O jogador Eduardo Ramos, do Clube do Remo, foi hostilizado por torcedores do Paissandu, na tarde desta quinta-feira, quando estava na fila dos cinemas do Boulevard Shopping. Acompanhado por uma garota, Ramos foi reconhecido e passou a ser vaiado, com palavrões e ofensas, sendo forçado a deixar a área. A amigos, contou que foi ver um filme e não se deu conta de que era dia da estreia do documentário "100 Anos de Payxão", sobre a história do Papão. 

Vida moderna


O passado é uma parada...

Praia do Arpoador, Rio de Janeiro. Anos 60.

O fator cabano



POR GERSON NOGUEIRA

Leandro Cearense, Ricardo Capanema, Pablo, Jonathan, Pikachu. Jogadores paraenses, oriundos das divisões de base dos clubes daqui e que de repente provaram sua utilidade na impressionante campanha que o Papão cumpre na Série B. Para encarar a longa maratona de jogos, a diretoria contratou 40 jogadores. Alguns emplacaram, outros nem tanto.
Enquanto uns chegavam e outros partiam, um seleto grupo de valores regionais começou a se destacar pela regularidade e a aplicação tática. O técnico Dado Cavalcanti decidiu prestigiar essa pequena confraria prata-da-casa e, pelo visto, não se arrependeu.
Cearense teve um período de queda e chegou a ficar de fora da equipe por várias partidas – por coincidência, a pior fase do Papão no campeonato. Capanema e Pikachu, porém, se mantiveram firmes, como titulares absolutos, funcionando como termômetros da equipe.
Pikachu brilha pela capacidade ofensiva e velocidade que imprime aos avanços da equipe. Além disso, marca muitos gols e foi uma espécie de homem surpresa nas primeiras rodadas da Série B, condição que deixou de existir depois que o seu bom futebol passou a ser conhecido por todos os adversários.
De Cearense, dizia-se que era um jogador intimidado pelas responsabilidades da Série B. Com empenho e disponibilidade para o jogo de equipe, venceu essas resistências e conseguiu estar em campo sempre que o Papão pontuou na competição. Fez gols decisivos, além de participar do combate à saída de bola dos adversários. Tornou-se peça imprescindível no esquema de Dado.
Capanema, de estilo menos refinado, mas extremamente eficiente, foi o grande xerife do time no primeiro turno, combatendo bravamente à frente dos zagueiros. Sua importância como primeiro volante é tão acentuada que a lesão grave que o tirou de combate neste começo de segundo turno fez baixar um certo temor quanto ao destino do Papão na competição.
E pensar que ainda durante o certame estadual o papel de Capanema foi várias vezes colocado em xeque, diante de episódios de indisciplina. Chegou mesmo a ser colocado em disponibilidade sob o comando do técnico Mazola Jr. Aos poucos, porém, foi se enquadrando nas diretrizes de Dado Cavalcanti e conquistou seu lugar no time graças a muito esforço e combatividade.
Pablo era um reserva polivalente, mas foi aproveitado no time titular quando Tiago Martins se contundiu. Entrou sempre bem em partidas da Série B e da Copa do Brasil, transmitindo seriedade e consistência no jogo aéreo. Com o retorno do titular, é provável que fique no banco de reservas, mas provou sua utilidade.
E Jonathan fecha o quinteto de cabanos que tem dado ao Papão a força necessária para alcançar resultados que o próprio torcedor não considerava possível. O volante, que às vezes faz a função de meia, tem se destacado pelo fôlego impressionante (tem, ao lado de João Lucas, o melhor preparo físico do grupo) e a aplicação nas partidas. Tornou-se figura exponencial ao dar cobertura a Pikachu e, também, pela habilidade nas ações ofensivas, como no gol de abertura anteontem no Recife.
É justo reconhecer que todos, cada um à sua maneira, têm seu quinhão neste desempenho soberbo do Papão na Série B.


Direto do Facebook

Transcrevo a mensagem enviada pelo amigo Ronaldo Almeida, mineiro de nascimento e paraense por razões afetivas, impressionado com a boa vontade do STJD ao julgar atletas de grandes clubes brasileiros.
“Confesso que ontem pela primeira vez assisti sem cortes um julgamento (?) do STJD, pela Fox Sports: do Emerson do Flamengo, por ofensas ao juiz chamando de fraco e m... Já era reincidente, dizendo tanta babaquice. Só faltou a certos juízes pedirem para tirarem foto, fazer selfies, pedir uma camisa autografada para o filho ou neto etc. Vergonha, Gerson. Se, em vez de Emerson, fosse um Cascata, um Didira, um Pikachu (você entende o que quero dizer), esses jogadores sairiam algemados e pegariam um ano de suspensão sem direito a efeito suspensivo. Que eu tenha visto, ninguém da imprensa paulista ou carioca teve a mesma minha opinião. Por isso, apesar de não ser paraense e adorar essa cidade , torço para que Remo, Paissandu, Águia, a minha Tuna etc. alcancem voos mais altos neste bagunçado, comprometido, manchado campeonato da CBF. Saudações atleticanas. Abraços.”


Hulk e as ironias do destino

Fã assumido do talento de Hulk para caneladas e trombadas, leitor interpela o escriba sobre a manifesta aversão ao zagueiro disfarçado de atacante. Respondo ao cidadão (que preferiu não ser identificado) que não posso ser fã de um brucutu, categoria que desonra o Brasil bom de bola.
Justiça se faça, Hulk não é o primeiro nem será o último ferrabrás posto a serviço do escrete canarinho pentacampeão do mundo. Todos foram devidamente esquecidos ao longo do tempo. De imediato, vem à mente o nome de Fontana, o beque reserva de Brito na Copa de 70.
Há, também, o célebre caso de Chicão, o volante carniceiro que Cláudio Coutinho ousou transformar em símbolo de sua seleção na Copa de 1978, ignorando o craque Falcão. E não se pode esquecer de Elzo, maior pecado de avaliação da carreira de Mestre Telê. O volante do Galo foi levado à Copa de 1986 e deve ter arrancado vários quilômetros de gramas mexicanas com seus poderosos carrinhos.
Em 1994, Parreira teve a pachorra de levar o folclórico Viola à campanha afinal vitoriosa nos Estados Unidos. Resulta daí um daqueles absurdos típicos do futebol. Viola, do alto de sua conhecida falta de tato com a bola, é campeão do mundo, enquanto craques como Júnior, Zico, Falcão e Sócrates passaram em branco. 
O incrível Hulk, porém, apesar da reiterada insistência de Felipão, Mano Menezes e Dunga, dificilmente terá a mesma sorte de Fontana, Viola e Vampeta, para ficar apenas em três exemplos de campeões mundiais por ironia do destino.


(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 10)

Rock na madrugada - Gram Parsons & Flying Burritos Brothers, Wild Horses


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

E Leandrão reanima a fé vascaína


Capa do Bola, edição de quarta-feira, 09


Rock na madrugada - R.E.M., Imitation of Life


Triunfo da objetividade


POR GERSON NOGUEIRA

Mr. Série B mandou bem outra vez. Dado Cavalcanti, técnico do Papão, conseguiu que chegar aos 43 pontos na Série B com vitória pragmática e de pura audácia sobre o Santa Cruz, no Recife. Destaco o trabalho do técnico porque, nas circunstâncias, era o típico confronto para quem sabe explorar variáveis táticas e qualidades específicas de seus jogadores. E foi dessa maneira que tudo se desenrolou, com o resultado final refletindo a melhor estratégia empregada.
Depois de vencer o primeiro tempo por 1 a 0, marcando o gol em seu único lance de área, o Papão voltou para o segundo mais cauteloso e acabou sofrendo o empate (em penalidade máxima), mas não se amofinou e foi buscar o triunfo nos instantes finais, quando o adversário abriu a marcação no afã de virar o placar.
Foi uma atuação objetiva e de extrema concentração nos detalhes. Na condição de visitante, o Papão fez um jogo econômico, sem firulas e arriscando pouco, procurando explorar ao máximo os erros de passe e de posicionamento da linha de zagueiros do Santa Cruz, principalmente o estabanado beque Alemão.
Enfrentou com tranquilidade a pressão do time pernambucano ao longo dos primeiros minutos, mas soube chegar ao gol explorando a única oportunidade que surgiu pela frente. Com frieza, a bola foi roubada na intermediária por Augusto Recife, tocada a Leandro Cearense, que deu um passe perfeito para Jonathan. Dentro da área, o volante driblou o marcador e fuzilou no canto esquerdo do gol de Tiago.
Na etapa final, Leandro Cearense saiu lesionado e Dado botou Betinho em campo. De início, o atacante parecia confuso e errou alguns passes, mas aos poucos foi achando seu espaço. O time seguia se sustentando na força do conjunto e no esforço do trio Augusto Recife, Gilson e Jonathan na marcação.
O Papão crescia sempre que os contragolpes eram puxados por Pikachu e Welinton Junior, mas o Santa Cruz ameaçava também. Acabou chegando ao gol após lançamento rápido para Luisinho, que foi tocado na área pelo zagueiro Tiago Martins. Grafite bateu o penal e empatou.
Animado com o empate, o Santa Cruz passou a atacar com insistência, usando a dupla de centroavantes Grafite e Anderson Aquino. Ainda com o placar em 1 a 1, o goleiro Ivan evitou gol certo em cabeceio de Aquino, aos 22. Os ataques se repetiam e a defesa bicolor se safava com certa dificuldade quando a bola caía pelo lado de Tiago Martins, voltando de contusão. O time também sofria com a ausência de jogadas que pudessem conter o Santa e equilibrar as ações no meio-campo.
Quase ao final, em escapada rápida pela esquerda, Welinton avançou até a linha de fundo e cruzou. A bola resvalou num zagueiro e foi espalmada pelo goleiro. Betinho fechava na pequena área e tocou para as redes, marcando o segundo gol.
Nos instantes finais, o Santa ainda pressionou e obrigou Ivan a pelo menos duas grandes intervenções, mas o Papão conseguiu manter a vantagem, não sem antes ainda desfrutar de boa oportunidade com Welinton.
Para um time que foi praticamente desfigurado em sua formação titular, a vitória foi um resultado importantíssimo, que mantém a perspectiva do acesso e revela o amadurecimento adquirido ao longo da disputa. A vitória leva a assinatura de um time comprometido na luta por resultados, espelhando à perfeição a filosofia de seu técnico.


A dois pontos da liderança

Por alguns minutos, o Papão chegou a liderar a classificação da Série B. Foi quando vencia a partida no primeiro tempo e, depois, quando virou o placar. Só que, instantes depois, o Botafogo superou o Paraná no estádio Niltão e manteve o primeiro lugar.
De todo modo, a segunda colocação faz jus à excelente campanha do time no campeonato e à arrancada neste começo de returno, quando conquistou 13 dos 15 pontos disputados, vencendo quatro jogos e empatando apenas um.
Mais que isso: o Papão vai deixando para trás nesta Série B a pecha de time doméstico, que encontrava sempre imensas dificuldades em vencer fora de seus domínios. A atuação no Arrudão consolidou um padrão de jogo, baseado em defesa forte e marcação intensa em todos os setores. Mesmo sem um setor de criação eficiente, o Papão vai vencendo e avançando.


Leoninos ainda lamentam perdas

Enquanto Jonathan marcava o golaço que abriu caminho para a vitória bicolor, ontem à noite, um experiente benemérito azulino comentava sobre a facilidade com que a gestão de Zeca Pirão permitiu a saída sem ônus do volante, uma das joias das divisões de base do Leão. Leandro Cearense deixou o clube pelas mesmas razões.
Por atrasos salariais, Jonathan atravessou a Almirante Barroso e ainda foi à Justiça do Trabalho cobrar pendências, cujo valor inicial está em R$ 400 mil. Tudo poderia ter sido evitado se a política salarial e a própria administração do clube fosse mais responsável.


O incrível escrete do Capitão do Mato

Vejo na TV o Brasil começar amistoso caça-níquel nos States, a tempo de acompanhar duas cenas grotescas num lance só. Hulk marca gol limpando jogada na área, depois de um lance de habilidade de William pelo lado direito da defensiva norte-americana.

Hulk e William foram dois dos vários fiascos daquele time de Felipão na Copa 2014. Hulk, que alguns afobados já cognominaram de “incrível”, continua a ser um zagueirão que joga como atacante e que costuma brilhar em partidas desnecessárias como a de ontem. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 09)