quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O fator cabano



POR GERSON NOGUEIRA

Leandro Cearense, Ricardo Capanema, Pablo, Jonathan, Pikachu. Jogadores paraenses, oriundos das divisões de base dos clubes daqui e que de repente provaram sua utilidade na impressionante campanha que o Papão cumpre na Série B. Para encarar a longa maratona de jogos, a diretoria contratou 40 jogadores. Alguns emplacaram, outros nem tanto.
Enquanto uns chegavam e outros partiam, um seleto grupo de valores regionais começou a se destacar pela regularidade e a aplicação tática. O técnico Dado Cavalcanti decidiu prestigiar essa pequena confraria prata-da-casa e, pelo visto, não se arrependeu.
Cearense teve um período de queda e chegou a ficar de fora da equipe por várias partidas – por coincidência, a pior fase do Papão no campeonato. Capanema e Pikachu, porém, se mantiveram firmes, como titulares absolutos, funcionando como termômetros da equipe.
Pikachu brilha pela capacidade ofensiva e velocidade que imprime aos avanços da equipe. Além disso, marca muitos gols e foi uma espécie de homem surpresa nas primeiras rodadas da Série B, condição que deixou de existir depois que o seu bom futebol passou a ser conhecido por todos os adversários.
De Cearense, dizia-se que era um jogador intimidado pelas responsabilidades da Série B. Com empenho e disponibilidade para o jogo de equipe, venceu essas resistências e conseguiu estar em campo sempre que o Papão pontuou na competição. Fez gols decisivos, além de participar do combate à saída de bola dos adversários. Tornou-se peça imprescindível no esquema de Dado.
Capanema, de estilo menos refinado, mas extremamente eficiente, foi o grande xerife do time no primeiro turno, combatendo bravamente à frente dos zagueiros. Sua importância como primeiro volante é tão acentuada que a lesão grave que o tirou de combate neste começo de segundo turno fez baixar um certo temor quanto ao destino do Papão na competição.
E pensar que ainda durante o certame estadual o papel de Capanema foi várias vezes colocado em xeque, diante de episódios de indisciplina. Chegou mesmo a ser colocado em disponibilidade sob o comando do técnico Mazola Jr. Aos poucos, porém, foi se enquadrando nas diretrizes de Dado Cavalcanti e conquistou seu lugar no time graças a muito esforço e combatividade.
Pablo era um reserva polivalente, mas foi aproveitado no time titular quando Tiago Martins se contundiu. Entrou sempre bem em partidas da Série B e da Copa do Brasil, transmitindo seriedade e consistência no jogo aéreo. Com o retorno do titular, é provável que fique no banco de reservas, mas provou sua utilidade.
E Jonathan fecha o quinteto de cabanos que tem dado ao Papão a força necessária para alcançar resultados que o próprio torcedor não considerava possível. O volante, que às vezes faz a função de meia, tem se destacado pelo fôlego impressionante (tem, ao lado de João Lucas, o melhor preparo físico do grupo) e a aplicação nas partidas. Tornou-se figura exponencial ao dar cobertura a Pikachu e, também, pela habilidade nas ações ofensivas, como no gol de abertura anteontem no Recife.
É justo reconhecer que todos, cada um à sua maneira, têm seu quinhão neste desempenho soberbo do Papão na Série B.


Direto do Facebook

Transcrevo a mensagem enviada pelo amigo Ronaldo Almeida, mineiro de nascimento e paraense por razões afetivas, impressionado com a boa vontade do STJD ao julgar atletas de grandes clubes brasileiros.
“Confesso que ontem pela primeira vez assisti sem cortes um julgamento (?) do STJD, pela Fox Sports: do Emerson do Flamengo, por ofensas ao juiz chamando de fraco e m... Já era reincidente, dizendo tanta babaquice. Só faltou a certos juízes pedirem para tirarem foto, fazer selfies, pedir uma camisa autografada para o filho ou neto etc. Vergonha, Gerson. Se, em vez de Emerson, fosse um Cascata, um Didira, um Pikachu (você entende o que quero dizer), esses jogadores sairiam algemados e pegariam um ano de suspensão sem direito a efeito suspensivo. Que eu tenha visto, ninguém da imprensa paulista ou carioca teve a mesma minha opinião. Por isso, apesar de não ser paraense e adorar essa cidade , torço para que Remo, Paissandu, Águia, a minha Tuna etc. alcancem voos mais altos neste bagunçado, comprometido, manchado campeonato da CBF. Saudações atleticanas. Abraços.”


Hulk e as ironias do destino

Fã assumido do talento de Hulk para caneladas e trombadas, leitor interpela o escriba sobre a manifesta aversão ao zagueiro disfarçado de atacante. Respondo ao cidadão (que preferiu não ser identificado) que não posso ser fã de um brucutu, categoria que desonra o Brasil bom de bola.
Justiça se faça, Hulk não é o primeiro nem será o último ferrabrás posto a serviço do escrete canarinho pentacampeão do mundo. Todos foram devidamente esquecidos ao longo do tempo. De imediato, vem à mente o nome de Fontana, o beque reserva de Brito na Copa de 70.
Há, também, o célebre caso de Chicão, o volante carniceiro que Cláudio Coutinho ousou transformar em símbolo de sua seleção na Copa de 1978, ignorando o craque Falcão. E não se pode esquecer de Elzo, maior pecado de avaliação da carreira de Mestre Telê. O volante do Galo foi levado à Copa de 1986 e deve ter arrancado vários quilômetros de gramas mexicanas com seus poderosos carrinhos.
Em 1994, Parreira teve a pachorra de levar o folclórico Viola à campanha afinal vitoriosa nos Estados Unidos. Resulta daí um daqueles absurdos típicos do futebol. Viola, do alto de sua conhecida falta de tato com a bola, é campeão do mundo, enquanto craques como Júnior, Zico, Falcão e Sócrates passaram em branco. 
O incrível Hulk, porém, apesar da reiterada insistência de Felipão, Mano Menezes e Dunga, dificilmente terá a mesma sorte de Fontana, Viola e Vampeta, para ficar apenas em três exemplos de campeões mundiais por ironia do destino.


(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 10)

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