POR GERSON NOGUEIRA
Um grupo
de torcedores do Remo hostilizou e expulsou, por ocasião do jogo com o Vilhena
no Mangueirão, domingo, um jovem carioca que trajava a camisa do Flamengo.
Mesmo que os amigos que o acompanhavam explicassem que ele estava ali para
torcer pelo time paraense, a malta de intolerantes não refreou a fúria sem
sentido. Continuou aos gritos e xingamentos, chegando mesmo a empurrar o
torcedor. Ameaçado de agressão física, ele desistiu de ver a partida e foi
embora, depois de ter comprado ingresso.
A triste cena,
acompanhada por dezenas de outras pessoas, é emblemática do clima de crescente
intolerância nos estádios (e até ruas) de Belém.
Sob o manto da rivalidade
entre remistas e bicolores repetem-se episódios de extrema agressividade, saindo
do fanatismo bobo para a insanidade pura e simples.
Na semana passada, o
jogador Eduardo Ramos foi enxotado da porta de uma sala de cinema no Boulevard
Shopping após ser reconhecido por torcedores bicolores que ali estavam para ver
o documentário "100 Anos de Payxão", que celebra o centenário do
Papão.
Ramos tinha ido ver um
outro filme, mas sua presença ali foi vista como provocação inaceitável pelos
baderneiros. Como se tivesse a obrigação de pedir autorização para assistir a
um filme que estava em exibição ao lado das salas destinadas ao documentário
alviceleste.
O absurdo ganhou
contornos ainda mais graves quando, horas depois, outros torcedores
manifestaram apoio e solidariedade às cenas vexatórias e incivilizadas vistas
na porta do cinema.
São exemplos preocupantes,
embora de matizes diferentes, do grau de altercação e desequilíbrio que envolve
hoje o nosso futebol. O fato é que a rivalidade centenária entre Leão e Papão
não pode ser desfigurada por grupelhos radicais, encorajados pelo
distanciamento físico proporcionado pelas redes sociais e que açulam a valentia
virtual e a leviandade impune.
O que aconteceu domingo
no Mangueirão está mais próximo do que se poderia definir como radicalismo sem
noção. Criou-se há algum tempo, a partir de exemplos bem sucedidos entre
torcidas de clubes nordestinos, a campanha pela valorização do amor único a um
clube do Estado. A boa iniciativa degenerou para uma perseguição sem tréguas aos
chamados "torcedores mistos", que cultivam paixão por agremiações do
Sul e/ou Sudeste.
Ora, que mal há em torcer por um ou mais clubes¿ Deixa-se de lado um dos pilares da paixão futebolística: o livre arbítrio e a ausência de limites geográficos para exprimir amor a um clube. Conheço muita gente que torce por Barcelona, Milan, Chelsea, Real Madri e até Bayern, sem prejuízo do sentimento que nutrem por clubes nacionais.
Ora, que mal há em torcer por um ou mais clubes¿ Deixa-se de lado um dos pilares da paixão futebolística: o livre arbítrio e a ausência de limites geográficos para exprimir amor a um clube. Conheço muita gente que torce por Barcelona, Milan, Chelsea, Real Madri e até Bayern, sem prejuízo do sentimento que nutrem por clubes nacionais.
A maior aberração
embutida nessas atitudes truculentas é o desrespeito às liberdades individuais.
Todos temos direito de expressar livremente nossas preferências, de qualquer
espécie, seja dentro ou fora do esporte. Atentaram contra esse princípio
constitucional tanto os que humilharam um jogador no cinema do shopping quanto os
que achincalharam um torcedor trajando camisa de outro clube.
Os de bom senso têm a
obrigação de agir no sentido de aplacar esse ódio irracional que brota no
entorno de uma paixão tão bonita como o futebol.
Amistoso ou treino, eis a
questão
O Remo dispõe de 13 dias
para se preparar adequadamente para o mata-mata da Série D. Antes do primeiro
confronto com o Palmas (TO), marcado para o próximo dia 26, o time fará um
amistoso com o Castanhal no domingo (20), às 10h.
Duvido que a partida seja
mais útil, em termos práticos, do que um bom treino coletivo. Além da impossibilidade
de ver em ação todos os atletas, visto que Cacaio prefere testar quem não vem
atuando, há o risco de contusões, justamente na fase mais decisiva do
campeonato.
A novidade será a
apresentação de Kiros aos torcedores. O atacante foi inscrito e já pode atuar
pelo Remo. Deve ser o principal reforço para os jogos com o Palmas. Cacaio terá
com ele a chance de reeditar a estratégia vitoriosa de Roberval Davino na Série
C de 2005, quando utilizou os grandalhões Capitão e Carlinhos em certeiras
jogadas aéreas.
Para isso, porém, é preciso
treinar e repetir incansavelmente esse tipo de lance. Era o que Davino fazia,
obtendo excelentes resultados nos jogos. Com bons batedores de faltas e
escanteios, como Eduardo Ramos, Levy e Juninho, o grandalhão Kiros pode vir a
ser um bom trunfo nas batalhas eliminatórias – mas não pode ser o único.
O doce dilema de Dado
Uma dúvida deve estar
zunindo na cabeça de Dado Cavalcanti a essa altura do pagode: Leandro Cearense
ou Betinho no comando do ataque. O primeiro é o mais regular dos avantes do
Papão na Série B, com participação em quase todas as partidas nas quais o time
pontuou. O segundo tem sido muito certeiro nas finalizações, aproveitando todas
as oportunidades que aparecem pela frente.
O torcedor, que nem
sempre simpatizou com Cearense, começa a dedicar aplausos entusiasmados ao novo
centroavante. Betinho tem feito por merecer. Fez um gol típico de camisa 9
contra o Santa Cruz e diante do ABC marcou em lance de oportunismo puro,
antecipando-se a zagueiros e ao goleiro adversário.
Tem em seu favor maior
desenvoltura dentro da área, enquanto Cearense é um jogador taticamente mais
interessante, pois ajuda na marcação e sabe sair da área para buscar e
construir jogadas. Saíram de seus pés os passes perfeitos para Welinton Jr. fazer
o segundo gol contra o América-MG e para Jonathan abrir o placar contra o Santa
Cruz no Recife.
Dado terá que quebrar a
cabeça diante desse gostoso dilema. Qualquer das opções que preferir dará ao
ataque consistência e força.
(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 17)
Nenhum comentário:
Postar um comentário