POR GERSON NOGUEIRA
Mr. Série B mandou bem outra vez. Dado Cavalcanti,
técnico do Papão, conseguiu que chegar aos 43 pontos na Série B com vitória
pragmática e de pura audácia sobre o Santa Cruz, no Recife. Destaco o trabalho
do técnico porque, nas circunstâncias, era o típico confronto para quem sabe
explorar variáveis táticas e qualidades específicas de seus jogadores. E foi
dessa maneira que tudo se desenrolou, com o resultado final refletindo a melhor
estratégia empregada.
Depois de vencer o primeiro tempo por 1 a 0, marcando
o gol em seu único lance de área, o Papão voltou para o segundo mais cauteloso
e acabou sofrendo o empate (em penalidade máxima), mas não se amofinou e foi
buscar o triunfo nos instantes finais, quando o adversário abriu a marcação no
afã de virar o placar.
Foi uma atuação objetiva e de extrema concentração
nos detalhes. Na condição de visitante, o Papão fez um jogo econômico, sem
firulas e arriscando pouco, procurando explorar ao máximo os erros de passe e
de posicionamento da linha de zagueiros do Santa Cruz, principalmente o
estabanado beque Alemão.
Enfrentou com tranquilidade a pressão do time
pernambucano ao longo dos primeiros minutos, mas soube chegar ao gol explorando
a única oportunidade que surgiu pela frente. Com frieza, a bola foi roubada na
intermediária por Augusto Recife, tocada a Leandro Cearense, que deu um passe
perfeito para Jonathan. Dentro da área, o volante driblou o marcador e fuzilou
no canto esquerdo do gol de Tiago.
Na etapa final, Leandro Cearense saiu lesionado e
Dado botou Betinho em campo. De início, o atacante parecia confuso e errou
alguns passes, mas aos poucos foi achando seu espaço. O time seguia se
sustentando na força do conjunto e no esforço do trio Augusto Recife, Gilson e
Jonathan na marcação.
O Papão crescia sempre que os contragolpes eram
puxados por Pikachu e Welinton Junior, mas o Santa Cruz ameaçava também. Acabou
chegando ao gol após lançamento rápido para Luisinho, que foi tocado na área
pelo zagueiro Tiago Martins. Grafite bateu o penal e empatou.
Animado com o empate, o Santa Cruz passou a atacar
com insistência, usando a dupla de centroavantes Grafite e Anderson Aquino. Ainda
com o placar em 1 a 1, o goleiro Ivan evitou gol certo em cabeceio de Aquino,
aos 22. Os ataques se repetiam e a defesa bicolor se safava com certa
dificuldade quando a bola caía pelo lado de Tiago Martins, voltando de
contusão. O time também sofria com a ausência de jogadas que pudessem conter o
Santa e equilibrar as ações no meio-campo.
Quase ao final, em escapada rápida pela esquerda,
Welinton avançou até a linha de fundo e cruzou. A bola resvalou num zagueiro e
foi espalmada pelo goleiro. Betinho fechava na pequena área e tocou para as
redes, marcando o segundo gol.
Nos instantes finais, o Santa ainda pressionou e
obrigou Ivan a pelo menos duas grandes intervenções, mas o Papão conseguiu
manter a vantagem, não sem antes ainda desfrutar de boa oportunidade com
Welinton.
Para um time que foi praticamente desfigurado em sua
formação titular, a vitória foi um resultado importantíssimo, que mantém a
perspectiva do acesso e revela o amadurecimento adquirido ao longo da disputa. A
vitória leva a assinatura de um time comprometido na luta por resultados,
espelhando à perfeição a filosofia de seu técnico.
A dois pontos da liderança
Por alguns minutos, o Papão chegou a liderar a
classificação da Série B. Foi quando vencia a partida no primeiro tempo e,
depois, quando virou o placar. Só que, instantes depois, o Botafogo superou o
Paraná no estádio Niltão e manteve o primeiro lugar.
De todo modo, a segunda colocação faz jus à
excelente campanha do time no campeonato e à arrancada neste começo de returno,
quando conquistou 13 dos 15 pontos disputados, vencendo quatro jogos e
empatando apenas um.
Mais que isso: o Papão vai deixando para trás nesta
Série B a pecha de time doméstico, que encontrava sempre imensas dificuldades
em vencer fora de seus domínios. A atuação no Arrudão consolidou um padrão de
jogo, baseado em defesa forte e marcação intensa em todos os setores. Mesmo sem
um setor de criação eficiente, o Papão vai vencendo e avançando.
Leoninos ainda lamentam perdas
Enquanto Jonathan marcava o golaço que abriu caminho
para a vitória bicolor, ontem à noite, um experiente benemérito azulino
comentava sobre a facilidade com que a gestão de Zeca Pirão permitiu a saída sem
ônus do volante, uma das joias das divisões de base do Leão. Leandro Cearense
deixou o clube pelas mesmas razões.
Por atrasos salariais, Jonathan atravessou a
Almirante Barroso e ainda foi à Justiça do Trabalho cobrar pendências, cujo
valor inicial está em R$ 400 mil. Tudo poderia ter sido evitado se a política
salarial e a própria administração do clube fosse mais responsável.
O incrível escrete do Capitão do Mato
Vejo na TV o Brasil começar amistoso caça-níquel nos
States, a tempo de acompanhar duas cenas grotescas num lance só. Hulk marca gol
limpando jogada na área, depois de um lance de habilidade de William pelo lado
direito da defensiva norte-americana.
Hulk e William foram dois dos vários fiascos daquele
time de Felipão na Copa 2014. Hulk, que alguns afobados já cognominaram de
“incrível”, continua a ser um zagueirão que joga como atacante e que costuma
brilhar em partidas desnecessárias como a de ontem.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 09)
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